(Arquivo José
Vilson Nascimento júnior)
SILVEIRÃO:

O
Senhor Ulderico criado e nascido nessas instâncias fala do tempo em que morou
neste lugar. “Lá nasci e meu umbigo está enterrado na porteira da mangueira de
pedra. O meu velho pai dizia que os outros antigos, silveirão começou foi
trocado por sal e por isso o nome de silveirão, mas eu nasci e me criei lá, saí
de lá com mais ou menos 15 anos e meu pai era assim: um homem de muita coragem,
não gostava muito de aguentar desaforos. Sempre usava revólver na cintura, uma
faca do outro lado. Sempre foi de muito respeito, de muito crédito. Ali, onde
hoje é Mampituba antes era Rua Nova lá pertencia e pertence a Mampituba.
Naquela época nós não tinha estrada, era
carreiro. Então, nós tínhamos cargueiro. Com 8 – 10 anos eu andava com
cargueiro puxado, com minha mula encilhada descendo aquelas serras. Nos dias de
hoje é estrada por todos os lados, a gente sai daqui (Praia Grande) meia hora,
nem isso está lá no silveirão. Distante 20 e poucos quilômetros.
Meu pai era homem de palavra certa, o
que ele falava todo mundo acreditava. Um dia aconteceu um causo com meu pai:
ele era um rapaz solteiro, aí ele conheceu a falecida Maria Rita, que foi a
primeira mulher dele e era a dona do Silveirão. Eles casaram tiveram a primeira
filha que é a Eraclides, minha irmã.
Depois ele viuvou, a minha irmã ficou
com 10 ou 11 anos. Casou de novo, teve 7 filhos: 4 vivos e 3 mortos, e tem dois
enterrados e sepultados no cemitério de pedra que tem lá, fechado de taipa. Mas
o meu pai era um homem assim: então, no tempo da Eraclides, minha irmã mais
velha filha de Maria Rita. Ele andava buscando uma tropa de mulas - é uma
história que aconteceu com ele.
Quando ele foi reunir a tropa para
colocar na mangueira, mas tinha uma égua ventana que quer dizer, não entra na
mangueira e não deixa pegar. Tinha umas mulas junto com essa égua, ele tinha um
cachorro de estimação, trabalhava o dia inteiro não arreava da criação. Isso era na parte da tarde e ali mais ou
menos um quilômetro e meio da sede da fazenda onde meu pai tinha as mulas e
essa égua pararam contra uma parada de serra. Daí ele se lembrou assim (tinha
uma espingarda de dois canos) “vou matar essa égua para ela não aparecer mais
no campo e botar minhas mulas no mato. ”
Aí em cima de uma lombinha um quilometro mais ou menos da serra e o
cachorro latindo no meio do mato distante uns 500 metros. Foi quando meu pai ouviu uma mudança vim
vindo, era burro azurrar, entre outras coisas e ele
pensou ser uma mudança, mas aquilo era uma aparência,
era coisa que não era verdade.
Atravessou o mato, chegou lá aonde
estava a égua, a mula e o cachorro acoando (latindo), ele mirou a pistola,
quando ele apertou fogo para matar a égua, o cachorro pulou e ele atirou bem no
cachorro, que caiu, ele foi lá e o cachorro já estava morrendo. Meu pai deixou
o cachorro ali e foi embora, só chegou em casa e perguntou para minha mãe se
não tinha passado uma mudança, uma coisa ali? O que ela respondeu que não havia
passado ninguém. Então ele diz: é uma história do Silveirão, que aconteceu com
meu pai que era tropeiro. ”
JOSÉ
NUNES relata:
“ As primeiras serrarias no local: Somente na década de 70, a serraria que eu
montei. Era minha e do seu Neri... com a saída do falecido Lindolfo do
silveirão, eu comprei o gado dele, todo. E o falecido Hercílio comprou o
terreno dele. Eu tinha um parte de terras lá, tinha comprado do Senhor Osório
Klein, e Onório. Morava perto deles.
Fui embora para as Contendas, morei por
alguns anos lá, depois voltei pro silveirão, onde fiquei mais 12 anos ali.
Depois vim para Roça da Estância para colocar as gurias na escola, daí, eu
tinha os meus carneiros ali, naquela
época eu não era mais tropeiro, já tinha parado de tropiá.”
Seu Zezé Nunes conta que foi tropeiro no
Itaimbezinho por muitos anos, tropiava para Mulada, Criúva, Sâo Marcos, Caxias,
Jaquirana, fazia toda essa zona. Crioulo
do Itaimbezinho, nascido e criado ali. O seu umbigo está enterrado, na quebrada
funda, bem pertinho da estrada que atravessa e vai para Cambará. Nasceu ali e
depois se mudou lá para baixo onde tem o hotel.
Júnior complementa a fala dizendo
perguntando: E no tempo Senhor Zezé o
senhor trocava mantimentos? E o que o senhor levava para lá? No que ele responde: ‘trocava. Eu levava
açúcar, banana, cachaça. Trazia farinha,
vinho, cadeiras e até sal e querosene.
Teve uma falta muito grande numa época,
não existia querosene, não existia mais nem SAL, o que era racionado: um
quilinho pra um, um quilinho pra outro, um litro de querosene pra um, um litro
de querosene pra outro, que ninguém tinha. E tudo era na base do querosene, não
tinha energia, não tinha lâmpada, não tinha nada. Então daí, quem tinha um
litro de querosene estava rico, ficava a semana inteira, só acendia a luz pra
se deitar e já apagava ligeiro, para poupar querosene.” (Juninho complementa
que era a energia que existia naquele tempo).
“Então eu me criei aí nesse
Itaimbezinho, passando trabalho, criando porcos, arrendatário de mulas,
cargueiro, erguendo bruacas, erguendo cercas e fiquei velho.
A
HISTÓRIA DE UMA TROPEIRA
Dona Eraclides conta que ia do Slveirão
a Caxias do Sul de a cavalo: viajava fazendo a troca de mercadorias, ela era a
“madrinheira. ” Os animais tinham
sincelo e a gente ia na frente, a madrinheira
era quem puxava a tropa e os cargueiros iam tudo atrás. Dormia na estrada,
dentro de barraca s que armavam a beira do caminho.
“me criei puxando água nas costas, não
tinha água encanada, colocava uma lata no ombro, e um balde na outra mão,
puxando água toda a vida, lá de baixo do morro pra cima, de um olho de água que
tinha ali (vertente), para as necessidades de casa. Me criei assim, também
socando arroz no pilão. Todos os dias , para fazer o almoço, e lavar roupa num
rio, ajoelhada numa tábua, tinha que lavar as roupas lá também.
Quando meu pai plantava milho ali em
baixo na serra, neste tempo já era moça. Eu vinha ajudar ele levar a carga de
milho. Ele tinha um cesto e eu outro. As pessoas até pensam que é mentira, mas
não é. Naquele tempo eu tinha força mesmo.
Casei com José nunes com vinte anos.
(Seu Zezé Nunes complementa que as vezes quando ia passear lá, em tempos de
namoro, ela cozinhava aquelas galinhas gorda, com arroz). Teve com ele 9 filhos.
Ganhou todos eles em casa, nunca foi para o hospital. Também nunca levou seus
filhos no hospital. Complementa: “Graças a Deus, nunca foi preciso levar no
hospital. O primeiro filho que teve nasceu morto e está enterrado no cemitério
de pedra. Nasceu duas lá nas contendas, que era a Zeli, e a Zenaide (in
Memoriam), daí a Zenilda, o Alberi, o Laury
o Filho e a Picucha todos no silveirão. E a Nega nasceu já na Roça da
Estância”. Seu Zezé conta que: quem batizou ela a nega foi o avô do Juninho, o
senhor Lindolfo que era o pai da mãe a senhora Adiles.
Seu Zezé Nunes agradece a oportunidade
de se apresentar para dar depoimentos das coisas do TRADICIONALISMO da
antiguidade. Quero deixar gravado na minha vida, alguma coisa para ver se mais
tarde os filhos netos, bisnetos, tataranetos, vão observar o que que eu era na
vida.
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