Minhas Publicações

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terça-feira, 3 de setembro de 2019

A HISTÓRIA DE JOSÉ NUNES UM TRADICIONALISTA GAÚCHO



(Arquivo José Vilson Nascimento júnior)
SILVEIRÃO
Em entrevista aos senhores José Nunes da Silveira a Senhora sua esposa: Dona Eraclides Ribeiro da Silveira com as filhas Zeli e Zenilda e participação de Ulderico da Silva, irmão de Eraclides, haveremos de conhecer a história da serra do Silveirão no mais longínquo e distante lugar do Estado do Rio Grande do Sul, descortinando-se com as mais belas paisagens. Nesta grandeza da natureza que Deus nos deu por legado, viveram pessoas corajosas, destemidas e desbravadoras nas décadas de 1920 – 1960. Como vamos ver no delinear de suas histórias:
 O Senhor Ulderico criado e nascido nessas instâncias fala do tempo em que morou neste lugar. “Lá nasci e meu umbigo está enterrado na porteira da mangueira de pedra. O meu velho pai dizia que os outros antigos, silveirão começou foi trocado por sal e por isso o nome de silveirão, mas eu nasci e me criei lá, saí de lá com mais ou menos 15 anos e meu pai era assim: um homem de muita coragem, não gostava muito de aguentar desaforos. Sempre usava revólver na cintura, uma faca do outro lado. Sempre foi de muito respeito, de muito crédito. Ali, onde hoje é Mampituba antes era Rua Nova lá pertencia e pertence a Mampituba.
Naquela época nós não tinha estrada, era carreiro. Então, nós tínhamos cargueiro. Com 8 – 10 anos eu andava com cargueiro puxado, com minha mula encilhada descendo aquelas serras. Nos dias de hoje é estrada por todos os lados, a gente sai daqui (Praia Grande) meia hora, nem isso está lá no silveirão. Distante 20 e poucos quilômetros.
Meu pai era homem de palavra certa, o que ele falava todo mundo acreditava. Um dia aconteceu um causo com meu pai: ele era um rapaz solteiro, aí ele conheceu a falecida Maria Rita, que foi a primeira mulher dele e era a dona do Silveirão. Eles casaram tiveram a primeira filha que é a Eraclides, minha irmã.
Depois ele viuvou, a minha irmã ficou com 10 ou 11 anos. Casou de novo, teve 7 filhos: 4 vivos e 3 mortos, e tem dois enterrados e sepultados no cemitério de pedra que tem lá, fechado de taipa. Mas o meu pai era um homem assim: então, no tempo da Eraclides, minha irmã mais velha filha de Maria Rita. Ele andava buscando uma tropa de mulas - é uma história que aconteceu com ele.
Quando ele foi reunir a tropa para colocar na mangueira, mas tinha uma égua ventana que quer dizer, não entra na mangueira e não deixa pegar. Tinha umas mulas junto com essa égua, ele tinha um cachorro de estimação, trabalhava o dia inteiro não arreava da criação.  Isso era na parte da tarde e ali mais ou menos um quilômetro e meio da sede da fazenda onde meu pai tinha as mulas e essa égua pararam contra uma parada de serra. Daí ele se lembrou assim (tinha uma espingarda de dois canos) “vou matar essa égua para ela não aparecer mais no campo e botar minhas mulas no mato. ”  Aí em cima de uma lombinha um quilometro mais ou menos da serra e o cachorro latindo no meio do mato distante uns 500 metros.  Foi quando meu pai ouviu uma mudança vim vindo, era burro azurrar, entre outras coisas e ele pensou ser uma mudança, mas aquilo era uma aparência, era coisa que não era verdade.
Atravessou o mato, chegou lá aonde estava a égua, a mula e o cachorro acoando (latindo), ele mirou a pistola, quando ele apertou fogo para matar a égua, o cachorro pulou e ele atirou bem no cachorro, que caiu, ele foi lá e o cachorro já estava morrendo. Meu pai deixou o cachorro ali e foi embora, só chegou em casa e perguntou para minha mãe se não tinha passado uma mudança, uma coisa ali? O que ela respondeu que não havia passado ninguém. Então ele diz: é uma história do Silveirão, que aconteceu com meu pai que era tropeiro. ”

JOSÉ NUNES relata: “ As primeiras serrarias no local: Somente na década de 70, a serraria que eu montei. Era minha e do seu Neri... com a saída do falecido Lindolfo do silveirão, eu comprei o gado dele, todo. E o falecido Hercílio comprou o terreno dele. Eu tinha um parte de terras lá, tinha comprado do Senhor Osório Klein, e Onório. Morava perto deles.
Fui embora para as Contendas, morei por alguns anos lá, depois voltei pro silveirão, onde fiquei mais 12 anos ali. Depois vim para Roça da Estância para colocar as gurias na escola, daí, eu tinha os meus carneiros ali,  naquela época eu não era mais tropeiro, já tinha parado de tropiá.”
Seu Zezé Nunes conta que foi tropeiro no Itaimbezinho por muitos anos, tropiava para Mulada, Criúva, Sâo Marcos, Caxias, Jaquirana, fazia toda essa zona.  Crioulo do Itaimbezinho, nascido e criado ali. O seu umbigo está enterrado, na quebrada funda, bem pertinho da estrada que atravessa e vai para Cambará. Nasceu ali e depois se mudou lá para baixo onde tem o hotel.
Júnior complementa a fala dizendo perguntando:  E no tempo Senhor Zezé o senhor trocava mantimentos? E o que o senhor levava para lá?  No que ele responde: ‘trocava. Eu levava açúcar,  banana, cachaça. Trazia farinha, vinho, cadeiras e até sal e querosene.
Teve uma falta muito grande numa época, não existia querosene, não existia mais nem SAL, o que era racionado: um quilinho pra um, um quilinho pra outro, um litro de querosene pra um, um litro de querosene pra outro, que ninguém tinha. E tudo era na base do querosene, não tinha energia, não tinha lâmpada, não tinha nada. Então daí, quem tinha um litro de querosene estava rico, ficava a semana inteira, só acendia a luz pra se deitar e já apagava ligeiro, para poupar querosene.” (Juninho complementa que era a energia que existia naquele tempo).
“Então eu me criei aí nesse Itaimbezinho, passando trabalho, criando porcos, arrendatário de mulas, cargueiro, erguendo bruacas, erguendo cercas e fiquei velho.
A HISTÓRIA DE UMA TROPEIRA
Dona Eraclides conta que ia do Slveirão a Caxias do Sul de a cavalo: viajava fazendo a troca de mercadorias, ela era a “madrinheira. ” Os animais tinham sincelo e a gente ia na frente, a madrinheira era quem puxava a tropa e os cargueiros iam tudo atrás. Dormia na estrada, dentro de barraca s que armavam a beira do caminho.
“me criei puxando água nas costas, não tinha água encanada, colocava uma lata no ombro, e um balde na outra mão, puxando água toda a vida, lá de baixo do morro pra cima, de um olho de água que tinha ali (vertente), para as necessidades de casa. Me criei assim, também socando arroz no pilão. Todos os dias , para fazer o almoço, e lavar roupa num rio, ajoelhada numa tábua, tinha que lavar as roupas lá também.
Quando meu pai plantava milho ali em baixo na serra, neste tempo já era moça. Eu vinha ajudar ele levar a carga de milho. Ele tinha um cesto e eu outro. As pessoas até pensam que é mentira, mas não é. Naquele tempo eu tinha força mesmo.
Casei com José nunes com vinte anos. (Seu Zezé Nunes complementa que as vezes quando ia passear lá, em tempos de namoro, ela cozinhava aquelas galinhas gorda, com arroz). Teve com ele 9 filhos. Ganhou todos eles em casa, nunca foi para o hospital. Também nunca levou seus filhos no hospital. Complementa: “Graças a Deus, nunca foi preciso levar no hospital. O primeiro filho que teve nasceu morto e está enterrado no cemitério de pedra. Nasceu duas lá nas contendas, que era a Zeli, e a Zenaide (in Memoriam), daí a Zenilda, o Alberi, o Laury  o Filho e a Picucha todos no silveirão. E a Nega nasceu já na Roça da Estância”. Seu Zezé conta que: quem batizou ela a nega foi o avô do Juninho, o senhor Lindolfo que era o pai da mãe a senhora Adiles.

Seu Zezé Nunes agradece a oportunidade de se apresentar para dar depoimentos das coisas do TRADICIONALISMO da antiguidade. Quero deixar gravado na minha vida, alguma coisa para ver se mais tarde os filhos netos, bisnetos, tataranetos, vão observar o que que eu era na vida. 



 
 

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